Caminho agostiniano para o discernimento vocacional (Parte 4)

O mais útil e necessário é o amor

O motor que impulsionou a vida de Santo Agostinho, até nos momentos mais revoltos e convulsos da sua juventude, foi o amor: “Procurava o que amar, amando o amar (…) Amar e ser amado era a coisa mais doce para mim” (Confissões III, 1, 1).O mais útil e necessário na vida do ser humano é, precisamente, experimentar a beleza de poder amar e chegar a ser amado.

Procurava o que amar, amando o amar (…) Amar e ser amado era a coisa mais doce para mim

Confissões III, 1, 1

Que é o mais útil? O mais útil é o mais necessário. E que é o mais necessário? O mais necessário na vida do ser humano é o amor, ou seja, caber no coração dos outros, e que os outros caibam também no próprio coração. Dizer isso pode parecer um tanto romântico, mas não é…

Todas as formas de busca do sentido da vida das pessoas, no final, batem com a pergunta: 🤔 e isto para que serve? A procura do sucesso ou do prestígio, seja do tipo que for, procura o reconhecimento dos outros, sua aprovação; caber no coração dos outros.

Procurar a riqueza tem como transfundo, sobre tudo, uma necessidade forte de segurança, que não enche o dinheiro em si mesmo, mas o que com ele se consegue, que os outros me amem, embora seja comprando seu afeto; caber no coração dos outros. E que é a procura do prazer pelo prazer, senão um modo de mendigar amor, ou seja, a necessidade de ser significativos para alguém; caber no coração dos outros.

🎯Amar e ser amado, como indica Santo Agostinho, é o mais doce e maravilhoso da vida humana. Assim, uma das chaves fundamentais para o caminho de discernimento da própria vocação e missão no mundo está em abrir-se a capacidade de amar. Só aquele tipo de amor que tira a pessoa do seu egoísmo e a leva a olhar o sofrimento em muitos rostos ao redor, é capaz de gerar valor no mundo. A vocação brota como uma resposta a partir de que se identifica aquela realidade na qual, desde a própria capacidade de amar, se forja um compromisso para a transformação.

Existe uma canção de Salomé Arricibita, 🎶“Me diz como ser pão”, que pode ajudar a compreender que o mistério da vida humana se resolve precisamente no amor que se recebe e, sobretudo, no amor que se faz doação. Convido a que se repasse a letra e se escute a maravilhosa interpretação do seu autor.

🎶 Me diz como ser pão, me diz como ser pão…

Como ser alimento que sacia por dentro,

Que traz a paz.

Me diz como ser pão, me diz como ser pão…

Me diz como ficar perto de quem não tem alento,

A quem acredita que é uma historinha o rir, o amar.

Me diz como ser pão,

Me diz como me deixar comer pouco a pouco,

Entregando-o tudo e enchendo-me mais.

Me diz como ser pão, me diz como ser pão…

Como ser para outros, em todo momento, alimento e maná (bis).

Tu que és o pão da vida,

Tu que és a luz e a paz,

Tu que molhas a terra quando choves o céu,

Me diz como ser pão.

Tu que fazes de mim teu reflexo,

Tu que abraças minha debilidade,

Tu que sacias minha fome quando volto de longe,

Me diz como ser pão (bis).

Me diz como ser pão que cura a injustiça,

Me diz como ser pão que cria liberdade…🎶

(https://www.youtube.com/watch?v=rQQRt4G9Zb8)

O processo para o discernimento vocacional parte, portanto, de dar espaço no coração à pergunta: qual seria o caminho pelo que eu chegaria a amar mais a Deus e aos outros?